Queimadas aumentam em até 31% a chance de um bebê nascer prematuro na região Sudeste
Muito se fala sobre o impacto que as mudanças climáticas trarão no futuro, no entanto, já é possível observar esses efeitos sobre a saúde dos bebês na atualidade. É o que demonstra uma pesquisa científica realizada pela Escola de Políticas Públicas e Governo (FGV EPPG), ao identificar uma chance maior de o bebê nascer prematuro, com má-formação congênita ou com baixo peso, caso a mãe tenha sido exposta a queimadas, variações de temperatura e poluição do ar, durante os três primeiros meses de gestação.
O aumento de 100 focos de queimadas esteve associado com 18,55% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso na região Sul do Brasil, considerando que as mães tenham sido expostas a essas queimadas durante o primeiro trimestre da gravidez. Este artigo, que também identificou um aumento de aproximadamente 1%, para a região Centro-Oeste, foi publicado na Revista Científica The Lancet.
Em relação a prematuridade, a região Sudeste registrou o maior impacto considerando a exposição às queimadas. O índice encontrou um aumento de chance em 31% para o bebê nascer prematuro, caso as gestantes também tenham sido expostas a este fenômeno durante o mesmo período da gravidez. Enquanto no Norte, a chance de uma criança nascer prematura devido a queimadas aumenta em 5%.
Por fim, dentre 12 categorias de má-formação congênita que foram analisadas em outro estudo, as mais relevantes foram na região do palato e nariz, na qual teve um aumento de 0,7%, doenças no sistema respiratório, que foi de 1,3% e no sistema nervoso com 0,2%. As regiões mais afetadas pelo impacto das queimadas na má-formação congênita dos bebês foram no Norte, Sul e Centro-Oeste.
O pesquisador Weeberb Réquia, quem coordenou a pesquisa, explica que os mesmos fatores “baixo peso, prematuridade e má-formação congênita” também foram pesquisados na associação com as variações climáticas. Segundo ele, esses três fatores são alguns dos indicadores para categorizar um nascimento saudável, de acordo com a comunidade médica. Além disso, ele destaca que os três primeiros meses de gravidez são fundamentais para a saúde do bebê, pois é o momento crucial de sua formação.
“Utilizando a mesma metodologia, identificamos que o efeito do clima sobre o nascimento de crianças com baixo peso somente foi relevante na região Norte, em específico na região Amazônica. Com o aumento de 1 Grau Celsius na temperatura há 5,16% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso”, informou o professor.
Ele destaca que esse efeito é acumulativo, ou seja, a cada grau aumentado na temperatura, é somado mais de 5% de chance de a criança nascer fora do peso ideal. “Em estudos na área de epidemiologia ambiental geralmente consideramos a associação entre exposição ambiental e saúde em função de um determinado aumento na exposição, para direcionar a relevância do risco e a futura tomada de decisão”, acrescentou Weeberb.
O professor destaca que as pesquisas que investigam o impacto das variações climáticas na prematuridade e na má-formação congênita já estão em andamento. E após estarem finalizadas ele partirá para investigar o impacto da poluição do ar, também nesses três fatores: baixo peso ao nascer, nascimento precoce e as anomalias congênitas.