NUPEM/UFRJ propõe monitoramento e diagnóstico da febre do Oropouche
O Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da UFRJ (NUPEM/UFRJ), em Macaé, propõe ações de monitoramento e diagnóstico avançado da febre do Oropouche, doença em crescimento no estado. Segundo o Ministério da Saúde, os casos no Rio de Janeiro saltaram de 138 em 2024 para 699 em 2025, com 372 confirmações, um aumento de 169%. Na região, Casimiro de Abreu ocupa o quinto lugar em incidência, com 24 casos, enquanto Cachoeiras de Macacu lidera com 161. Macaé está entre as dez cidades mais afetada, com 19 confirmações.
O NUPEM/UFRJ firmará parceria com o Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, liderado pelo médico e doutor em genética Amílcar Tanuri, referência nacional na área e com o NEEDIER – Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes, coordenado pela médica e infectologista Terezinha Marta Castiñeiras. Especializado na análise de arbovírus como Zika, dengue, Chikungunya e Oropouche, o laboratório utilizará sequenciamento genético para identificar variantes virais e possíveis ligações com doenças neurológicas, como a microcefalia. “Essa colaboração impulsionará a pesquisa e aprimorará diagnósticos rápidos e precisos, ampliando o conhecimento sobre infecções virais no Brasil”, destaca Amílcar Tanuri.
A febre do Oropouche é causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense, transmitido principalmente pelo inseto Culicoides paraensis (maruim). Os sintomas incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dores musculares e articulares, náuseas, tontura e, em alguns casos, erupções cutâneas. Segundo a médica e pesquisadora Terezinha Marta Castiñeiras, professora associada da UFRJ, “embora a doença seja, na maioria das vezes, autolimitada, há risco de complicações”.
O vírus do Oropouche circula no Brasil desde os anos 1960, sendo historicamente restrito à região amazônica. No entanto, a partir de 2024, o número de casos aumentou em diversas regiões do país. “O Oropouche sempre foi apontado como um vírus com potencial emergente e capacidade de disseminação para outras regiões do Brasil. Com o recente aumento de casos, é essencial investigar o que pode estar impulsionando essa expansão”, destacou o professor Dr. Rodrigo Nunes da Fonseca, doutor em genética evolutiva do desenvolvimento de artrópodes do NUPEM/UFRJ.
Para compreender a evolução do vírus, os pesquisadores do NUPEM/UFRJ devem realizar o sequenciamento genético do Oropouche. O objetivo é verificar se houve o surgimento de uma nova linhagem, que possa apresentar maior capacidade de replicação e transmissibilidade. “Vamos investigar se alterações no genoma do vírus podem ter aumentado sua capacidade de transmissão”, acrescentou Nunes da Fonseca.
MICROCEFALIA
A semelhança dos sintomas com outras arboviroses como dengue, zika e chikungunya pode dificultar o diagnóstico. E, assim como o Zika, que foram amplamente relacionados a casos de microcefalia em gestantes, outros vírus, como o Oropouche, também estão sendo investigados por suas possíveis conexões com o desenvolvimento de anomalias cerebrais em recém-nascidos: “Esse cenário ressalta a importância de um monitoramento rigoroso das infecções virais durante a gestação, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce para minimizar riscos à saúde fetal,” afirma Cíntia Monteiro de Barros, diretora do NUPEM
AUMENTO DE CASOS
Entre os principais fatores que podem estar contribuindo para o aumento dos casos, especialistas apontam a expansão da atividade humana em áreas de floresta e as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. O monitoramento contínuo e o diagnóstico avançado da doença se tornam essenciais para o controle da febre Oropouche e para evitar uma nova crise sanitária no país.
PROF. DR. AMÍLCAR TANURI
Amílcar Tanuri é um pesquisador de destaque nas áreas de virologia molecular, genética e resistência viral a fármacos. Ele é graduado em Medicina, doutor em Genética e chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde 2000, atua como consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) na HIV ResNet, rede global dedicada ao estudo da resistência do HIV às drogas. Suas pesquisas concentram-se na diversidade genética do HIV e na evolução da resistência viral aos antirretrovirais, contribuindo significativamente para o desenvolvimento de estratégias de controle da infecção. A partir de 2015, Tanuri ampliou seu escopo de estudos para incluir o vírus da Zika, aprofundando-se nos impactos da infecção viral no sistema nervoso e no desenvolvimento fetal. Ao longo de sua trajetória, tem utilizado abordagens de biologia molecular, sequenciamento genético e virologia aplicada para entender melhor a dinâmica viral e suas implicações na saúde pública.
PROF. DR. RODRIGO NUNES DA FONSECA
Rodrigo Nunes da Fonseca é um pesquisador com atuação nas áreas de biologia do desenvolvimento, evolução molecular, morfologia, biologia molecular e bioinformática. Ele é graduado em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em bioquímica, doutor em genômica funcional e biologia evolutiva do desenvolvimento (Evo-Devo) pela Universidade de Colônia, Alemanha, pesquisador visitante do Instituto de Genômica Funcional de Lyon, França em 2022 e livre-docente pela USP-Ribeirão Preto (2023). As pesquisas do professor concentram-se na genética evolutiva do desenvolvimento de artrópodes. Ele utiliza técnicas de sequenciamento de RNA e DNA, bioinformática e microscopia para estudar como as mudanças genéticas e no meio-ambiente influenciam o desenvolvimento de organismos.
SOBRE CÍNTIA MONTEIRO DE BARROS
Prof. Dra. Cíntia Monteiro de Barros é neurocientista e professora associada do NUPEM/UFRJ, onde atua como diretora geral desde 2022. Formada em Biomedicina (UNIRIO, 2005) e Farmácia (UNIGRANRIO, 2008), possui doutorado em Ciências Morfológicas e pós-doutorado em Neuro-histologia e Ultraestrutura pela UFRJ. Sua pesquisa abrange neurociências, imunologia e bioquímica, com foco em neurorregeneração e doenças neurodegenerativas, explorando a regulação neuro-imunológica, regeneração do sistema nervoso e neuroproteção. Cíntia foi reconhecida como Cientista do Nosso Estado (CNE/FAPERJ) e bolsista do CNPq e orienta alunos de mestrado e doutorado.
TEREZINHA MARTA CASTIÑEIRAS
Terezinha Marta Castiñeiras é médica, pesquisadora e professora associada da UFRJ, especialista em doenças infecciosas e parasitárias. Graduada cum laude em Medicina, com mestrado e doutorado pela UFRJ, atua na instituição desde 1993. Fundadora do Centro de Informação em Saúde para Viajantes (Cives-UFRJ), coordenou o Centro de Triagem da UFRJ na pandemia de Covid-19 e idealizou o NEEDIER Carlos Chagas, unidade voltada ao estudo de doenças emergentes. Possui certificação internacional em medicina de viagem (ISTM) e ampla experiência em infectologia clínica, medicina tropical e vacinologia, contribuindo para o avanço da saúde pública.
SOBRE O NUPEM:
O NUPEM é um centro de pesquisa multidisciplinar com impacto nas áreas de biologia, meio ambiente, saúde e ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que visa estimular e fortalecer as atividades de pesquisa, ensino, extensão e desenvolvimento tecnológico da UFRJ no Norte Fluminense.