Quilombola cobra maior proximidade entre universidades e quilombo
Durante a palestra “Diálogos para e sobre o exercício do direito às Cotas Étnico-raciais da UERJ” realizada no dia 08, no Auditório da Reitoria, Rafaela do quilombo Botafogo, de Cabo Frio cobrou a aproximação da Uerj aos povos quilombolas e indígenas. Ela foi representando a Associação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro. Também estava presente Bia Nunes, presidente da associação.
Bia Nunes, presidente da ACQUILERJ apresentou-se e criticou a postura da universidade em fazer pesquisas sobre os quilombolas e após, não retornar mais lá para um feedback. As populações quilombolas são vistas como objeto de estudo e não como agentes e sujeitas de conhecimento.
Lucimara Muniz apresentou-se e falou brevemente como representante do quilombo localizado em Campos dos Goytacazes e Acquilerj, salientando a importância do debate com e na UERJ.
Rafaela exemplificou que sempre quis fazer curso superior e como ela outras pessoas do Quilombo onde ela vive. Entretanto, a luta pela sobrevivência é muito grande, e sobrevivência não é apenas a subsistência, mas principalmente manter a terra, a propriedade.
Relembrando que desde sua infância teve que lutar para sobreviver, assim como os demais jovens e adultos do quilombo. Seu desejo de ingressar numa universidade é uma luta que ainda não venceu, assim como tantos outros moradores de quilombos. Rafaela questionou por que a universidade não vai aos quilombos, formar, estudar, pesquisar. Ela entende que se a universidade fosse mais democrática, o êxodo rural quilombola diminuiria.
Rafaela como tantas outras mulheres negras, quilombolas ou carentes impacta significativamente na inserção de jovens mulheres nas universidades, onde pessoas brancas têm mais que o dobro de chances (22%) de conquistarem o diploma universitário.
Em sua fala, Rafaela lembra que cota não é esmola, cota é política de ação afirmativa criada pelo Movimento Negro e Movimentos Quilombolas. “É o clamor pela reparação história de mais de 500 anos de escravidão sem remuneração, por isso a desigualdade pois sempre nos quiseram atrasados. Nossos quilombolas querem ainda mais se formar, formar pessoas e contrariar as estatísticas de que Quilombo só existe no século passado”.
De acordo com uma pesquisa conduzida antes da pandemia de Covid-19 pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) sobre a permanência dos estudantes nas universidades, mulheres negras eram as que mais apresentavam dificuldades no cenário acadêmico.
A hostilidade e a elitização presentes no ensino superior do Brasil carregam as marcas do nosso passado. As principais queixas das universitárias eram relacionadas a problemas emocionais (24%) e a carga excessiva de trabalhos estudantis (23%). Além disso, as estudantes também relataram encontrar dificuldades na linguagem acadêmica dos textos.
Apenas a vaga no ensino superior não é suficiente para garantir que um estudante tenha condições de permanecer cursando uma graduação. Afinal, o ambiente universitário é exigente, os horários das aulas por vezes podem inviabilizar um trabalho remunerado e os custos mensais com materiais de estudo, transporte, moradia e alimentação são altos.
Em algumas universidades, como na da Bahia estão sendo feitas propostas para melhoria de atendimento ao estudante negro e ao carente como criação de um Programa de Bolsas de Estudos para estudantes comprovadamente carentes, adotando como critério de classificação a renda mensal familiar, de restaurantes universitários nos Campi ou, quando for o caso, um sistema de subsídios para os gastos com alimentação, voltado para os alunos comprovadamente carentes.
Outras sugestões são de criação de um sistema de subsídios para os gastos com cópias, voltado para os alunos comprovadamente carentes; implantação de residências universitárias e de centros de convivência estudantil em todos os Campi.