Comer mal, significa também falar mal
Então os purês, papinha, mingaus e afins devem ser esporádicos depois dos 12 meses
- Atualizado emA consistência dos alimentos é capaz de favorecer, ou prejudicar, o desenvolvimento das estruturas responsáveis pela fala, além de alterarem o padrão adequado da respiração. Quem explica é afonoaudióloga Nathália Zambotti, da Clínica Zambotti & Duran da capital paulista.
Isso acontece já que o neurodesenvolvimento e a capacidade de deglutição e mastigação precisa andar alinhado aos componentes nutricionais adequados para cada idade. “A partir do momento em que a criança já pode se alimentar com grãos e sólidos os pais já devem fazer esta introdução, mesmo que a criança tenha menos de 1 ano”, diz a especialista.
Mas, a fonoaudióloga conta é que, na prática clínica, o que mais se percebe é que na tentativa de “facilitar a vida”, as crianças costumam seguir com dieta pastosa por muito tempo e assim os músculos da face e língua, tão importantes para o desenvolvimento da fala, vão se tornando cada vez mais flácidos e muitas vezes favorecendo também um padrão de respiração incorreto e prejudicial para a saúde. “Respirar pela boca não garante a oxigenação necessária para a aprendizagem”, alerta.
Se considerarmos que o fonema R vibrante é uma das últimas aquisições no desenvolvimento da fala e deve ser articulado com precisão até o limite de 4 anos de idade, é imprescindível que a língua tenha o tônus e a destreza necessária para esta função o quanto antes. “A falta de mastigação de alimentos consistentes, muitas vezes associada com a permanência de hábitos nocivos como a chupeta e mamadeira são altamente prejudiciais para o desenvolvimento da fala e em alguns casos pode interferir na efetividade da comunicação e em outros pode distorcer os sons e a fala sofre prejuízos estéticos”, diz Nathália.
Então os purês, papinha, mingaus e afins devem ser esporádicos depois dos 12 meses. Além disso, mastigar bem frutas, verduras, legumes, carnes, grãos, pães e biscoitos favorecem o desenvolvimento das estruturas de face e a adequada articulação dos sons da fala.
Para a especialista, as crianças que comem mal, seja uma criança que come pouco ou muito, aquelas que só aderem a uma consistência ou só a alguns alimentos específicos, também falam mal. “A boca é território de prazer e desprazer, tanto para a alimentação, como para a fala (daí o conceito de oralidade). Por isso a importância dos pais investirem no momento de preparação da comida, cena alimentar, etc”, fala a especialista que ainda deixa algumas dicas:
Mais cores no prato
Em todas as idades, a alimentação deve ser colorida, com misturas de sabores e temperaturas, como por exemplo, bater sempre os legumes e oferecer na mesma cor. Criar pratos coloridos e com alimentos mais sólidos. Além de despertar a curiosidade, ajuda na manutenção dos músculos da região oral.
Deixe pegar e sentir
Permitir que a criança possa manusear a comida sozinha (com supervisão de um adulto), se sujar e tentar comer sozinho faz parte.
Não ao liquidificador
Além de não ser recomendado pelos nutricionistas por destruir as fibras alimentares, ao amassar com o garfo a criança percebe quais alimentos estão sendo oferecidos à ela.
A participação é fundamental
Quando a idade permitir, deixar que os pequenos participem do preparo dos alimentos ou da organização da mesa (colocar toalha, pratos e talheres).
Brincar de comer
Mesmo para os meninos vale a incentiva das panelinhas e comidinhas de mentira, isso ajuda a criança para falar e também para comer melhor.